clodovis Boff e a busca de sentido

Em "O livro do sentido - Vol I", o frade filósofo Clodovis Boff escreveu:

"1. O sentido: 'status quaestionis'. A questão do sentido é hoje mais sentida do que discutida. Fala-se muito no 'sentido da vida', mas há pouca reflexão rigorosa e ordenada sobre o tema. A farta literatura que traz no título a palavra "sentido" trata da questão ora de um modo vago e geral, ora de um modo prevalentemente negativo: a falta de sentido.....

2. Sentido = finalidade e direção. Começamos, pois, com a definição de 'sentido', e o fizemos pelo conceito de direção ou rumo... 'Ter um sentido' é ter um rumo na vida. Mas, para se ter um rumo, é preciso ter uma finalidade... A finalidade, porém, não é ela mesma o sentido. O que ela faz é 'dar' o sentido. Mas como, na ordem dos fatos, finalidade é o conceito mais importante para se definir um sentido qualquer, então, para falar de forma breve, se diz que o sentido 'é' a finalidade. Ora, a partir da dupla conceitual 'finalidade/direção', recupera-se também o campo semântico inteiro ligado à idéia-chave de 'sentido', como os conceitos de razão de ser, motivação, esperança e especialmente o de bem ou valor (assim, dizer 'crise de sentido' é dizer 'crise de valor' e vice-versa.

3. Busca de sentido: a grande questão. O 'problema número um' da humanidade não se põe, decididamente, na ordem social ou próxima a ela, onde se situam os problemas econômicos..., ou os problemas políticos..., ou os problemas culturais..., ou ainda os ecológicos... A grande questão se põe, antes na ordem existencial, e é ai que se situa precisamente a 'questão do sentido'. Essa questão é, por si mesma, a mais importante em si mesma... É com efeito, uma questão essencial e profundamente humana, que diz respeito à vida como um todo e ao destino do ser humano como tal. Trata-se, pois, de uma questão primordial e universal, que está na base de todas as outras...

4. Secularista e niilista: um tipo de modernidade. Faz parte dos lugares comuns da cultura dominante dizer que a modernidade, como tal, é secularista ou irreligiosa. Em verdade, a modernidade, como cultura que valoriza as realidades imanentes... não é forçosamente secularista ou 'a-teia', e isso nem em teoria.... nem na prática. É só uma forma de modernidade, a modernidade fechada (a do tipo francês), que é laicista e, finalmente, niilista.

5. Deus vivo: o sentido por excelência. O sentido por excelência, mesmo do ponto de vista racional, tem caráter transcendente... Se o sentido do mundo pertencesse ao próprio mundo, ele mesmo precisaria de justificação. Daí que o sentido do mundo, por exigência lógica, só pode ser um metassentido. E esse só pode ser concretamente o que chamamos de Deus.

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7. O sentido: precisa ser 'sentido' e seguido. Agora, Deus só funciona como sentido quando é 'sentido' existencialmente, ou seja, quando é experenciado espiritualmente e inclusive seguido eticamente. Assim, o 'sentido de Deus' é condição para o 'sentido da vida'. Quanto mais Deus, tanto mais sentido.

8.Niilismo: sem sentido último, perde-se também o penúltimo. Niilismo, como pathos do tempo, significa crise de sentido: a vida perde valor, primeiro no seu todo, depois em suas partes. O niilismo não diz respeito apenas ao sentido último da vida (a qual para o niilista, não aportaria em nada), mas também ao sentido penúltimo, o das realidades ordinárias e comuns. De fato, estas, desligadas de um sentido absoluto, vão perdendo (a) graça. Ocorre, então, um sentimento de decdência existencial...

9. Ateísmo: a fonte real do niilismo. A 'morte de Deus', signo sob o qual a modernidade triunfante optou por viver e se organizar, levou, cedo ou tarde, por sua lógica interna, à 'morte do sentido', primeiro, do sentido transcendente e último, e, em seguida, dos sentidos imanentes e penúltimos, abrindo-se, assim, cada vez mais, o vórtice niilista."