homem camaleãO OU ADAPTÁVEL

"Duvido, logo sou."

O foco do homem camaleão é a facilidade e a sua expressão é um personagem.

O ser humano busca naturalmente, para maior facilidade no atendimento de suas necessidades, se adaptar ao ambiente em que vive.  Esta adaptação ocorre de forma espontânea, continuada e progressiva, em decorrência do ambiente/circunstância, sem premeditação ou intenção de prejudicar alguém, em função de uma necessidade (Liberdade, Segurança, Ter, Ser ou Amar) considerada relevante por ele e/ou por ignorância. Ao adaptar-se ele busca evitar o atrito, escapar do desgaste, trilhar o caminho do menor esforço.

Nesta busca, no afã de se manter/ficar adaptada, a pessoa pode:

  • Fazer o que ela pensa que os outros gostariam que ela fizesse;
  • Fazer o que ela pensa que os outros fariam para atender às próprias necessidades;
  • Fazer o que ela pensa que faria a pessoa que ela gostaria de ser.

Esta adaptação têm duas fases distintas:

  • Ela aparenta ser o que não é - engana aos outros;
  • Ela acredita ser o que não é - engana a si mesmo e aos outros.

Na 1ª fase, o indivíduo tem noção dos efeitos colaterais (seus sofrimentos) decorrentes dessa atitude, e deixará de mantê-la quando acreditar que o saldo não é positivo. Nesta fase, para se adaptar, ele distorce o eu.

Na 2ª fase, o indivíduo, de tanto aparentar ser o que não é, acaba por acreditar que é o que apenas fingia ser; e perde a noção dos sofrimentos causados a ele por essa atitude, e fica perdido; a dor permanece latente, mas ele já não sabe porque dói. Depois de um longo tempo agindo em desacordo com a sua essência, o indivíduo passa a ter consciência distorcida da realidade e tende a adaptar, inclusive, os seus valores morais à situação presente, o que o leva a não mais identificar a anomalia, embora o sentimento de insatisfação continue presente. O indivíduo se adapta para reduzir o desgaste/atrito na sua caminhada e trilhar o caminho do menor esforço, mas de tanto se adaptar ele acaba por cair numa situação de desgaste/angústia continuado da qual não vê saída e, paradoxalmente, se sente inadaptado. Adicionalmente, ele tende a desenvolver mecanismos de defesa, que justificam, perpetuam e agravam esta situação. Nesta fase, para preservar o eu criado, ele distorce a realidade.

Na infância a adaptação ocorre de forma natural, pois a criança ainda não desenvolveu a parte do cérebro responsável pela razão e nem tem o conhecimento mínimo necessário para o seu exercício. Por ainda não ter senso crítico desenvolvido, a criança absorve/assimila o senso comum, o que favorece a sobrevivência, mas leva à formação de um personagem.

Na adolescência, já com senso crítico em desenvolvimento, e focada na busca do Eu, a pessoa busca adaptar o personagem à sua essência, busca desenvolver a sua identidade; processo que se alonga pelo menos até os primeiros anos da fase adulta. Entretanto, por ignorância, ela pode não consegui-lo.

A capacidade de adaptação é uma facilidade para a satisfação das necessidades de Ter (relacionadas à sobrevivência), principalmente em situações em que for indispensável competir conforme as "regras do jogo". Mas, por outro lado, pode ser prejudicial quando se trata de questões relacionadas à essência, onde a adaptação ao ambiente/circunstância pode anular o uso do senso crítico e da intuição, prejudicando a evolução e causando sofrimento ao indivíduo.

Há inúmeros motivos para a criação de personagens, mas entre os principais estão: ameaças à segurança e/ou à liberdade e/ou à sobrevivência, necessidade de Ter aceitação ou de não ter rejeição, necessidade de afeto e baixa auto-estima.

Quando não há a adaptação, a pessoa tende a desenvolver sentimentos tais como: resignação, revolta, ressentimento, rancor, desejo de vingança, desprezo pelo outro, ódio, e similares. A hipocrisia e a dissimulação não são características do homem camaleão, pois para o hipócrita/dissimulado a necessidade não precisa ser relevante e ele tanto pode ser uma pessoa pouco evoluída (que acredita que os outros são meios para obter um fim), quanto uma pessoa não adaptada que (de forma fria e calculista) finge ser outra, para atingir seu objetivo, não se importando se com isso causa o mal a outrem.

A multidão gosta de igualdade; o igual é previsível, o diferente a incomoda. E por isso, ela busca conformar o indivíduo à sua imagem e semelhança. Cada indivíduo é único, mas a multidão quer igualdade e o induz à criação da faceta homem camaleão. Quanto maior a distância entre o homem camaleão e o real, maior a distância entre a aparência e a essência, maior a cisão interna, maior a probabilidade de sofrimento.

O ser humano precisa de harmonia entre o ser e o existir. Ele é conforme sua essência (instinto e intuição), mas existe (tem sua realidade) de acordo com seus pensamentos e, portanto, só existe de fato (só é) quando tem a dúvida por princípio, pois só do hábito de questionar pode advir a harmonia entre pensamento e essência. Quanto maior a distância entre o ser e o existir, maior a probabilidade de sofrimento.

O ser humano precisa se adaptar, precisa existir em harmonia com o ambiente onde vive para ser feliz, mas, para tanto, tem que fazê-lo em consonância/conformidade com a sua essência. E para isto, ele precisa descobrir o verdadeiro Eu que se encontra oculto pelo personagem desenvolvido na infância e/ou na adolescência e/ou na fase adulta.