viktor frankl e o sentido da vida

No livro "A Vontade de Sentido", o psiquiatra Viktor E. Frankl, criador da logoterapia, relatou um diálogo que ele teve com um paciente:

  • "Paciente: ... Enquanto isso, eu sou atormentado pelas minhas dúvidas a respeito do sentido da vida.
  • Frankl: E o que você tenta fazer para se ajudar?
  • Paciente: Bom, às vezes, tocar algum instrumento e ouvir música me trazem algum conforto. Afinal, Bach, Mozart e Haydn foram homens profundamente religiosos e, enquanto, ouço a música deles, gosto de pensar no fato de que seus compositores tiveram a graça e a boa fortuna de chegar à plena convicção de que há um sentido mais profundo, ou, até mesmo, um sentido último para a existência humana.
  • Frankl: Então, mesmo que você, pessoalmente, não acredite em tal sentido, você acredita nos grandes crentes?
  • Paciente: Isso mesmo, doutor.
  • Frankl: Bem, será que não é mesmo a missão dos grandes líderes, em religião, em ética, fazer a ponte entre, de um lado, valores e sentidos e, de outro, o homem? Ora, ao homem é dada a chance de receber das mãos de um grande gênio da humanidade - seja ele Moisés ou Jesus, Maomé ou Buda -, ao homem é dada a chance de receber deles aquilo que, a cada momento, ele não pode obter por si mesmo. Veja, no campo da ciência, a nossa inteligência pode ser suficiente. Mas, no que diz respeito às nossas crenças, devemos, às vezes, confiar em pessoas maiores que nós mesmos, adotando seus pontos de vista. Na busca por um sentido último do ser, o homem depende, muito mais, de sua esfera emocional do que meramente de suas fontes intelectuais. Em outras palavras, ele precisa confiar no sentido último do ser...
  • Paciente: O que me intriga, no entanto, é o problema: o que eu devo fazer quando me sinto assombrado por essa experiência de vazio, de ausência de qualquer valor ou sentido, me encontrando distante, tanto da beleza da arte quanto da verdade da ciência.
  • Frankl : Bom, eu diria que você não deveria basear-se apenas naqueles grandes espíritos, que encontraram sentido, mas acho que você, também, deveria voltar-se àqueles que o procuraram em vão. Você poderia estudar os escritos daqueles filósofos que, como os existencialistas franceses Jean-Paul Sartre e o tardio Albert Camus, sofreram as mesmas dúvidas que você agora enfrenta, mas as transformaram em uma filosofia, ainda que niilista. Assim, você vai colocar os seus problemas em um nível acadêmico, impondo uma distância entre você e eles. Aquilo que o atormenta passará então a ser visto como um ou outro parágrafo em certa página de determinado volume de um ou outro autor. Você passará a reconhecer que sofrer por esses problemas é algo honestamente humano, até mesmo uma conquista, mais do que um sintoma neurótico. Você descobrirá que não há razão para sentir-se envergonhado, mas paea sentir-se orgulhoso: estamos falando de honestidade intelectual. Mais do que interpretar o seu problema nos termos de um sintoma, você aprenderá a entendê-lo como um aspecto essencial da condição humana, ao que todos nós nos submetemos. Você se considerará membro de uma comunidade invisível, da comunidade dos seres humanos que sofrem dessa experiência abismal de falta de sentido para a existência e que, ao mesmo tempo, tentam buscar uma solução para esse antigo problema da humanidade. Ora, esse mesmo sofrimento e essa mesma luta unem você, de fato, a alguns dos melhores exemplares da humanidade. Então, tente ser paciente e tenha coragem: paciente para confiar ao tempo os problemas não resolvidos e corajoso para não desistir da luta pela solução deles."