johann g. fichte e o sentido da vida



Na confererência "A vocação do homem em si e A vocação do homem na sociedade", o filósofo Johann Gottlieb Fichte falou:

"Submeter a si tudo o que é desprovido de razão, dominá-lo livremente e segundo a sua própria lei, é o derradeiro fim último do homem; fim último que é totalmente inacessível e deve permanecer eternamente inacessível, se o homem não houver de deixar de ser homem e tornar-se Deus. O conceito de homem implica que o seu postremo fito é inatingível, que o seu caminho para o mesmo deve ser infinito. Por conseguinte, o destino do homem não é atingir semelhante meta. Mas ele pode e deve aproximar-se sempre mais deste fito e, por isso, acercar-se indefinidamente desta meta constitui a sua verdadeira vocação como homem , isto é, como ser racional mas finito, sensível mas livre. – Se agora à plena consonância consigo mesmo se der o nome de perfeição, no sentido mais elevado da palavra, como certamente se pode denominar, então a perfeição é a meta suprema e inacessível do homem; mas o aperfeiçoamento até ao infinito é a sua vocação. Ele está aí para se tornar sempre moralmente melhor, e tornar tudo melhor, à sua volta, do ponto de vista sensível, e se ele se olhar na sociedade, também moralmente melhor, tornando-se deste modo a si mesmo cada vez mais feliz.

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Todos os indivíduos que pertencem ao gênero humano são entre si diferentes; há apenas uma coisa em que eles de todo concordam, a sua meta última, a perfeição. Só de um modo é que a perfeição é determinada: é totalmente idêntica a si mesma; se todos os homens pudessem tornar-se perfeitos, poderiam alcançar o seu objectivo supremo e último, e seriam assim plenamente idênticos entre si, seriam apenas um só, um único sujeito. Mas, na sociedade, cada um esforça-se por fazer o outro mais perfeito, pelo menos segundo os seus conceitos; por elevá-lo ao seu ideal, que ele do homem para si estabeleceu. Por conseguinte, a meta derradeira e suprema da sociedade é a plena unidade e unanimidade com todos os membros possíveis da mesma sociedade. Mas a consecução de tal meta, a consecução da vocação do homem em geral é impossível – pressupõe a obtenção da perfeição absoluta: meta igualmente inatingível – enquanto o homem não tiver de deixar de ser homem, e não houver de se tornar Deus. Por conseguinte, a plena união entre todos os indivíduos é, sem dúvida, a meta derradeira, mas não a vocação do homem na sociedade.

Acercar-se e aproximar-se indefinidamente desta meta – eis o que ele pode e deve. A este acercamento da união plena e da unanimidade entre todos os indivíduos podemos chamar associação. Por conseguinte, a verdadeira vocação do homem na sociedade é uma associação que, quanto à intimidade, se torna sempre mais sólida e, quanto à extensão, mais ampla: mas esta associação só é possível mediante o aperfeiçoamento – pois os homens só são concordes e podem unir-se a propósito da sua destinação última. Por conseguinte, poderíamos igualmente dizer: aperfeiçoamento comum, aperfeiçoamento de si mesmo por meio da influência livremente utilizada dos outros sobre nós, e aperfeiçoamento dos outros por efeito retroactivo sobre eles enquanto seres livres – eis a nossa vocação na sociedade.""