modelos e referências


Para exercer o livre-arbítrio de forma eficaz, e não se sentir perdida, a pessoa precisa de indicadores do rumo a seguir, objetivos a serem alcançados, meios a serem utilizados e velocidade da caminhada. O indicador intuitivo de direção - a perfeição - é algo muito vago e distante (quase um sonho) e, portanto, sozinho não supre esta carência, especialmente nas fases iniciais de desenvolvimento/evolução da pessoa. A pessoa precisa de indicadores compatíveis com sua realidade, e que possam ser realizados nesta vida: para orientar a sua caminhada, ela naturalmente se baseia em modelos e referências de sua escolha.

Modelos - características principais:

  1. Unilateralidade - na relação, apenas um é modelo.
  2. Tanto pode ser pessoas próximas, quanto distantes.
  3. Uma pessoa pode ser um modelo completo ou apenas para alguns valores.
  4. Idealização - o modelo é sempre idealizado.
  5. Quando há relacionamento de fato, ele é do tipo vertical (o modelo tem ascendência sobre a pessoa).
  6. A relação é do tipo Eu-Isso; podendo ser Eu-Tu, mas com características de unilateralidade, devido às diferenças entre as partes.
  7. Distanciamento - o modelo tem vivência e realidade distintas.
  8. Transitoriedade - com o crescimento/desenvolvimento a pessoa tende a alterar a sua relação de modelos.
  9. Representação - o modelo representa um papel; a manutenção da posição norteia o relacionamento; atitudes defensivas.
  10. Modelos são fontes primárias de valores terminais e secundárias de valores instrumentais.

Referências - características principais:

  1. Reciprocidade - os envolvidos na relação são referência um para o outro.
  2. São pessoas próximas, ou que já foram próximas.
  3. Uma pessoa pode ser uma referência completa, ou apenas para alguns valores.
  4. Identificação - a igualdade/similaridade norteia a escolha.
  5. O relacionamento é do tipo horizontal - prevalece a igualdade/paridade na relação.
  6. A relação é do tipo Eu-Tu, recíproca, devido à igualdade/similaridade entre as partes.
  7. Proximidade - vivência e realidade iguais/similares.
  8. Permanência - com o crescimento/desenvolvimento a pessoa tende a aumentar a sua relação de referências.
  9. Transparência - a verdade norteia o relacionamento; sem defesas.
  10. Referências são fontes primárias de valores instrumentais e secundárias de valores terminais.

Modelos propiciam o desenvolvimento de uma visão da perfeição; referências propiciam o desenvolvimento de uma visão da realidade. Modelos indicam o que buscar, enquanto referências indicam como buscar.

Uma pessoa só pode ser plenamente modelo ou referência, a outra função deve ser secundária, pois:

  1. Quando uma mesma pessoa ocupa as duas funções, ambas ficam comprometidas, visto que quando um modelo se torna referência, ele perde ascendência e distanciamento,  e quando uma referência se torna modelo, ela perde igualdade e proximidade, o que tende a comprometer a função.
  2. Enquanto o modelo pode propiciar apenas a informação/conhecimento dos valores instrumentais, frutos de sua vivência em outra época (ou lugar) e/ou a sua vivência em outro estágio de crescimento/desenvolvimento, a referência tem a vivência destes valores na mesma realidade e/ou no mesmo estágio de crescimento/desenvolvimento, e por isso ela tende a prevalecer sobre o modelo na definição destes valores.
  3. Modelo são pessoas idealizadas (que aparentam Ter/Ser o que a outra almeja), e, portanto, tendem a prevalecer na definição de valores terminais.

O homem vê o mundo a partir de si, mas se vê a partir do outro. Ele foi criado para evoluir em conjunto com o outro, para viver em comunidade. Quando a pessoa busca conhecer a outra, o mesmo acontece no sentido inverso, ou seja, a outra também a conhece; e ambas se beneficiam desta relação. A pessoa sem referências e/ou modelos se sente perdida por não ter parâmetros que balizem sua caminhada. É no relacionamento com o outro que a pessoa realiza/consolida a sua evolução.

O processo modelos e referências (de direcionamento, comparação e autoavaliação) tem sua importância progressivamente reduzida na medida que se avança do Ter para o Amar, deixando naturalmente de existir quando a pessoa, já adulta e evoluída, puder se orientar a partir de um único modelo: o Perfeito, o Absoluto - Deus.